Bio

"Conheci Andrea Drigo, seu violão e sua voz, em São Sebastião. Como eu, ela colaborava com um projeto de revitalização da cultura caiçara. Ela levava sua música e bebia daquela fonte de tradições, da folia de reis, da viola tocada numa casa de pau a pique sem luz. A primeira coisa que me impressionou foi a técnica com que tocava o violão – irrepreensível, cuidadosa e delicada. Suas experiências vocais me remeteram a Meredith Monk. Fiquei encantada com essa sintonia entre dois extremos: a erudição experimental e a vivência popular. Sua voz suave encontra o lugar certo – e isso é uma virtude rara – nas composições originais que ela apresenta. É bom ouvir Andrea Drigo: é fresco, é diferente, é contemporâneo e é livre. Isso tudo me encanta".
Patrícia Palumbo
Jornalista e Pesquisadora de Música Popular Brasileira.


Trajetória de uma pesquisa

Pesquisadora vocal, multiinstrumentista, regente, compositora e diretora, Andrea Drigo iniciou sua trajetória musical aos sete anos de idade, com o violão clássico. Passou por uma sólida formação instrumental, com mestres como Henrique Pinto e Luis Carlos Tessarin, dos quais foi também assistente e professora substituta. Grande amante e intérprete de Bach e Villa Lobos, Andrea já possuía também peças próprias, apresentando seu repertório violonístico em recitais e concertos de música câmara. No entanto, o que estava projetado para ser uma promissora carreira erudita, acaba por se deparar com novos horizontes sonoros. A descoberta da música oriental – sobretudo indiana – e o contato com a música popular brasileira de raiz, abrem os caminhos para a possibilidade da pesquisa sonora. Além disso, a formação no canto lírico vem despertar o interesse pelo instrumento vocal, que posteriormente se desdobra em novas referências, com profunda inspiração em trabalhos contemporâneos, como das cantoras Meredith Monk, Sainkho e Iva Bittová.

Paralelamente a essa abertura – que acabou por incluir em sua formação instrumental a cítara indiana, a rabeca e diversos instrumentos percussivos –, em 1993, Andrea Drigo é convidada por Lia Diskin, diretora da Associação Palas Athena, a ministrar um novo curso no local, intitulado ‘Liberação e Harmonização da Energia Através do Canto’. A partir desse trabalho, inicia-se o desenvolvimento de uma linguagem autoral, na qual Andrea reúne diversos fundamentos técnicos e influências conceituais que marcaram sua biografia.
Inspirada nas filosofias orientais, essa abordagem do processo vocal inclui a prática meditativa e a consciência dos fluxos energéticos no desenvolvimento do aparelho fonador, alinhavando a experiência extática à pesquisa estética. Em 1997, adotando o nome O CAMINHO DO CANTO, esta técnica é selecionada pelo SESC Pompéia para integrar um programa de residência de oficinas criativas durante seis anos. Desde então, Andrea Drigo passa a levar sua técnica a diversos espaços culturais, atuando como preparadora vocal e diretora musical em espetáculos de dança e teatro.


Encontro entre linguagens

Em contato com o CD A DANÇA, primeiro disco de Andrea Drigo, que combina sonoridades indianas e brasileiras sob o gênero instrumental, a diretora da Cia Oito Nova Dança, Lu Favoreto, convida a musicista para participar de seus projetos de dança contemporânea. De 2002 a 2010, Andrea atuou junto à Cia Oito como orientadora vocal, diretora musical e intérprete nos espetáculos Trapiche, Compêndio para a Velhice, CICLO – da Velhice à Infância, DEVORAÇÃO, Pianíssimo e 5 TRILHAS. Além dessa parceria, Andrea também trabalhou com diversos diretores teatrais, aplicando sua linguagem em processos criativos que resultaram em importantes espetáculos cênicos. Por sua atuação em ‘O que eu Entendi do que Tom Zé disse’, com dir. de Isabel Setti, foi indicada ao Prêmio Shell 2006, na categoria ‘Melhor Direção Musical e Técnica de Canto’. Em 2006, a partir de um grupo de estudos avançados da técnica O CAMINHO DO CANTO, Andrea Drigo cria a Cia 3 de Canto Contemporâneo, que inicia as pesquisas para montagem de uma ópera de sua autoria. Com o disco SUCURIDAN, Andrea Drigo retoma sua carreira solo, reunindo neste repertório todas as afluências poéticas, instrumentais e culturais que fazem de sua proposta artística um território híbrido, onde som, imagem, palavra e gesto se fundem na composição de atmosferas sonoras.